sábado, 25 de fevereiro de 2012

Inclusão do Karatê-Dô nas escolas ( Parte I )


    A inclusão do Karatê nas escolas se deve a partir do momento que os educadores e diretores observaram o conteúdo educacional dentro das aulas de karatê em academias que a sua filosofia oriental carrega valores de extrema necessidade para a formação dos alunos, além de preparar o aluno para o convívio social, afetivo, cooperativo e solidário; nota-se que o Karatê trabalha a auto-estima, auto-confiança, controle emocional e consequentemente o domínio das ações e estímulos como: raiva, vaidade, medo, arrogância ( etc. ) que são sentimentos pertinentes do ser humano, mas, que devem ser controlados e revistos por todas as pessoas que se preocupam com o relacionamento interpessoal.
   
A proposta pedagógica do Karatê da escola difere totalmente da prática desta arte marcial em outros locais, seja em academias, clubes, e associações. A abordagem de uma luta dentro das escolas precisa de uma relevância social maior que puramente a técnica, trazendo temas pertinentes e atuais como:  violência na escola e na sociedade, sexualidade, a mulher nas lutas, cultura oriental dentro de uma cultura local, a prática em ambientes abertos como parques florestais para a preservação da saúde, do meio ambiente e do equilíbrio físico e mental, a busca do auto-conhecimento através da prática voltada para a auto-reflexão dentro do treinamento consciente do Karatê.

   A forma de avaliar os alunos praticantes de Karatê dentro da escola se assemelha muito com a prática utilizada na Educação Física, podendo ser direcionada através dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s) e as Leis de Diretrizes e Bases (LDB).

   Um dos maiores obstáculos que o Karatê encontra dentro de uma escola , é o paradigma de ser uma luta violenta e proporcionar agressividade aos seus praticantes, quando na verdade a situação é inversa, proporcionando paz de espírito, canalizando toda a sua agressividade para os movimentos dos fundamentos executados individualmente e as lutas simuladas "Katas", que tem o objetivo de fazer uma sequência ordenadamente com vigor físico e concentração como se estivesse lutando contra vários adversários e tendo que vencê-los. Uma outra possibilidade de descarregar a agressividade, é o treinamento de "Kumitê" (combate), através dos educativos de luta com um prévio conhecimento do atacante e do defensor, criando diversas situações para que tanto o atacante como o defensor criem estímulos e reflexos aprimorando as suas habilidades e domínio do corpo, espaço e tempo de ação e reação, dando-lhe uma tranquilidade para enfrentar possíveis adversários ou problemas do dia-a-dia.

   O público-alvo que procura o Karatê na escola, tem o perfil diferenciado e alguns chegam com princípios deturpados da luta; para muitos, combate a timidez, outros por faltar habilidade para os esportes coletivos ou de quadra; buscam o aprimoramento no esporte individual (Karatê) para sobressair no seu grupo, uma pequena parcela influenciada pela mídia, que constrói heróis através de uma imagem de violência, agressões e lutas que vão desde os desenhos animados, filmes, novelas e propagandas se sentem atraídos por esta arte. O interessante é que todos ao se decepcionar com o verdadeiro "Karatê educacional", não desistem e mudam sua opinião e atitude perante a sociedade procurando se aprofundar através de livros e revistas que tragam mensagens filosóficas e técnicas do Karatê.

   Segundo Matsuo Bashô (1644-1694), literalmente a palavra japonesa "Zen", quer dizer meditação e isto significa estar plenamente consciente de cada momento:

" Embora o Zen seja um ramo do Budismo, não faz parte de nenhuma doutrina religiosa".

   O Zen é um treinamento espiritual que os samurais utilizavam para se tornarem mais cortêz e paradoxalmente melhores guerreiros. O mestre Funakoshi dizia: "O karateca se perde sem a cortesia", que é o principal objetivo dentro de um estabelecimento educacional.

   Dentro das possibilidades que o Karatê poderá oferecer aos alunos de uma escola para aplicação em diversas disciplinas estão:

Biologia: Conhecimento do mecanismo humano através de movimentos analíticos, concentrados ou em relaxamento.

Física: Velocidade de ação, potência, aceleração, força, massa, vetores, deslocamento e atrito.

Química: Transformações através da adrenalina, através da atenção, tensão e/ou relaxamento, estímulo e resposta.

Matemática:  Raciocínio lógico, precisão e rapidez na tomada de decisões.

Português: Comunicabilidade, desinibição, criatividade, entonação na leitura e auto-confiança.

História: Interesse para pesquisa de uma cultura oriental através de costumes e gestos de um comportamento ético de um povo oriental.

Geografia: Conhecimento de espaço, domínio de espaço, biotipo de um povo através do espaço, estratégia de guerra de acordo com o espaço.

Língua Estrangeira (Japonês): relaciona o nome ao objeto, exemplo: pássaro, sol, natureza, sol, lua, forte, fraco, leve, pesado, ciando uma relação objeto / fala. 

Artes: Expressão corporal, respiração diafragmática, representação, entonação de voz, aumento das potencialidades da emoção (sensibilidade).

Educação Física: Histórico (período militar), educação física oriental, tratamento medicinal, promoção da saúde, exercícios japoneses, condicionamento físico, alongamento e flexibilidade.

   Segundo Antônio Flávio e Tomáz Teden da Silva (1999), no seu livro Currículo, Cultura e Sociedade:

O currículo não é o veículo de algo a ser transmitido e passivamente absorvido, mas, terreno em que ativamente se criará e produzirá cultura. O currículo é assim, um terreno de produção e de política cultural, no qual as matérias existentes funcionam como matéria-prima de criação, recriação e sobretudo de contestação e transgressão.

   Assim, o Karatê educacional poderá contribuir de forma interdisciplinar e transdisciplinar reforçando a proposta pedagógica da escola, transformando o modelo tradicional de ensino em uma forma dinâmica e criativa, fazendo com que os alunos interajam com motivação para o seu conhecimento e consequentemente para sua formação como cidadão.

Fonte: 
Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
Departamento de Educação - Campus II
Curso de Especialização Metodologia em Educação Física e Esporte
Karatê Enquanto Conteúdo Escolar no CEFET-BA - Ensino Médio